Olás, tudo bem?
A parte materna da minha família mudou-se para a cidade quando minha mãe tinha uns 14 anos, a terceira filha mulher, e terceira mais nova, de oito irmãos. Com um histórico familiar de maridos alcoólatras [uma ou outra não herdaram essa sina, entre elas minha mãe] e tendo de trabalhar desde cedo na roça, todas as mulheres da família, desde a geração da minha avó, se destacam na força e na capacidade de enfrentar as situações mais difíceis sem se desesperar e sem perder a capacidade de rir da vida.
Eu acho incrível ouvir as histórias que essas mulheres contam quando se reúnem! Vai desde a bravura ao matar cobras com o 'olho' da enxada' [porque, segundo elas, se cortar a cobra com a lâmina da enxada elas ainda conseguem 'picar'] ao medo quase infantil de mandruvás [que é como chamam aquelas lagartas gorduchas] nas ramas de café que colhiam!
Umas dessas mulheres é minha tia mais velha, que quando o marido ficou doente assumiu o papel dele e passou a ir todos os dias ao sítio pequeno que eles tem preparar terra, plantar, capinar, regar, colher e vender os legumes e frutas na cidade, tudo sozinha. E ainda cozinha que é uma beleza! A primaiada toda, quando éramos crianças, ficava esperando o dia que a tia chamava pra almoçar na casa dela! E toda vez que se chega lá, até hoje, tem sempre alguma coisa gostosa pronta pra ser comida: pão-de-ló de laranja, doce de leite de cortar, pé de moleque, doce de leite cremoso, canjica. E coca-cola, que paradoxalmente, eles adoram.
O leite que usei nesse doce vem do sítio deles, que trazem todo dia pra vender na cidade - as pessoas ainda buscam o leite cru levando uns latões vazios de alumínio de 4 litros, com alça e tampa, que voltam cheio de leite fresco e verdadeiramente integral . E custa mais barato que o litro de leite de caixinha mais vagabundo!
Preparei um bom tanto de doce de leite, pra repartir com o meu irmão, e levei um vidro pra casa da minha vó, na hora do café da tarde. Minha avó fez café, arrumou a mesa e essa tia chegou. E eu, curioso, fiquei de longe prestando atenção na conversa pra ver o que elas, que fizeram doce de leite a vida toda, iam dizer. Cada uma pegou uma colherada, provaram e um silêncio, quebrado logo pela minha tia: "Nossa, mas o Rick precisa me passar a receita desse doce!".
E então o cansaço das duas horas e meia mexendo a panela desapareceu instantaneamente, e só ficou o orgulho.
Espero que vocês também gostem!
PS: O título do post é doce de leite da roça mas a receita na verdade é argentina. O 'da roça' se refere mais ao leite cru, que é o ideal para doce de leite. Se você não tem como conseguir leite cru na sua cidade, use o de saquinho ou garrafinha, tipo A, daqueles que ficam na geladeira do supermercado.
PS: O título do post é doce de leite da roça mas a receita na verdade é argentina. O 'da roça' se refere mais ao leite cru, que é o ideal para doce de leite. Se você não tem como conseguir leite cru na sua cidade, use o de saquinho ou garrafinha, tipo A, daqueles que ficam na geladeira do supermercado.
Doce de leite
[receita do Olivier Anquier]
Ingredientes:
2 litros de leite fresco cru [ou de saquinho, tipo A];
500g de açúcar [usei cristal];
1 e 1/2 colheres de chá [6g] de bicarbonato de sódio;
1 fava de baunilha [usei meia].
Preparo:
Em uma panela bem alta e larga, e de fundo grosso [usei de ferro esmaltada] coloque o leite e o açúcar. Leve ao fogo médio. Quando começar a ferver e espumar, retire do fogo e adicione o bicarbonato. A mistura vai subir espumar ainda mais, então mexa bem, fora do fogo, até reduzir um pouco a altura.
Volte a panela ao fogo baixo, mexendo o tempo todo [acho que constantemente já funciona, mas eu mexi mesmo o tempo todo] por cerca de 2 horas e meia. A mistura vai ficar amarela, depois levemente castanha, depois cada vez mais escura, até que mais ou menos com duas horas de fogo o pouco de espuma que ainda resta na superfície desaparece e o doce começa a engrossar e ferver levemente. Adicione a baunilha e cozinhe por mais 20 minutos, meia hora, sem parar de mexer, até ficar num ponto anterior ao de brigadeiro de colher [se ficar com ponto de brigadeiro de colher, ele passa do ponto depois de frio] - o doce engrossa bastante depois de frio.
Aqui, com a panela de ferro e fogo baixo de fogão comum, demorou exatamente 2 horas e 40 minutos desde o momento em que levei a panela ao fogo pela primeira vez.
Retire o doce da panela e passe para uma tigela grande [assim ele pára de ganhar calor] ou para vidros esterilizados.
Rende mais ou menos 900g de doce de leite.
[receita do Olivier Anquier]
Ingredientes:
2 litros de leite fresco cru [ou de saquinho, tipo A];
500g de açúcar [usei cristal];
1 e 1/2 colheres de chá [6g] de bicarbonato de sódio;
1 fava de baunilha [usei meia].
Preparo:
Em uma panela bem alta e larga, e de fundo grosso [usei de ferro esmaltada] coloque o leite e o açúcar. Leve ao fogo médio. Quando começar a ferver e espumar, retire do fogo e adicione o bicarbonato. A mistura vai subir espumar ainda mais, então mexa bem, fora do fogo, até reduzir um pouco a altura.
Volte a panela ao fogo baixo, mexendo o tempo todo [acho que constantemente já funciona, mas eu mexi mesmo o tempo todo] por cerca de 2 horas e meia. A mistura vai ficar amarela, depois levemente castanha, depois cada vez mais escura, até que mais ou menos com duas horas de fogo o pouco de espuma que ainda resta na superfície desaparece e o doce começa a engrossar e ferver levemente. Adicione a baunilha e cozinhe por mais 20 minutos, meia hora, sem parar de mexer, até ficar num ponto anterior ao de brigadeiro de colher [se ficar com ponto de brigadeiro de colher, ele passa do ponto depois de frio] - o doce engrossa bastante depois de frio.
Aqui, com a panela de ferro e fogo baixo de fogão comum, demorou exatamente 2 horas e 40 minutos desde o momento em que levei a panela ao fogo pela primeira vez.
Retire o doce da panela e passe para uma tigela grande [assim ele pára de ganhar calor] ou para vidros esterilizados.
Rende mais ou menos 900g de doce de leite.
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