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Banho de Banho na Produção Leiteira

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Com a união de boas ferramentas de gestão, controle do processo produtivo e investimento em tecnologia transformou uma equena propriedade no Paraná em exemplo de rentabilidade para toda a cadeia

Quando Emerson Vriesman saiu do dia-a-dia da chácara Pereira, uma pequena propriedade de 25 hectares no município paranaense de Carambeí, jamais imaginou que voltaria para a atividade rural. Na época, em 1995, Vriesman tinha 17 anos. Quase duas décadas depois, formado contador, ele não somente assumiu o comando dos negócios da família no campo, como percebeu que teria de estudar mais para modernizar o processo produtivo, da tecnologia à mão de obra, além de organizar a estrutura familiar visando a perenidade do negócio e sobreviver à pressão por produtividade do setor, no qual a família já estava nas duas gerações anteriores. “Voltei porque estava preocupado com a sucessão familiar e com a maneira rústica como era a produção na época”, diz Vriesman. “O futuro da nossa pecuária estava ameaçado”. Assim, ele deixou o escritório que mantinha em Castro, cidade vizinha a Carambeí, para voltar à atividade no campo.

Quando retornou em 2013, o que mais preocupava Vriesman era não estar na ponta tecnológica do setor leiteiro, com uma escala de produção que se mostrava pouco sustentável no longo prazo. A primeira atitude tomada foi financiar a compra da fazenda Capão da Imbuia, de 137 hectares, a poucos quilômetros da antiga propriedade. Com mais espaço, o rebanho de vacas em lactação, que era de 90 holandesas, passou a ser de 274. O total é de 495 animais, incluindo as vacas secas e 183 novilhas compradas em julho. “Com essa compra, chegamos ao limite da propriedade”, diz o produtor. Outra mudança significativa aconteceu na produção por animal. As vacas, que eram criadas soltas no pasto, ganharam um confinamento, o que trouxe maior conforto para elas e facilidade no manejo. Assim, embora a produtividade da chácara já fosse muito boa, quando comparada aos cerca de quatro litros diários, por vaca, no País, o desempenho também avançou: passou de 26,5 litros para 35 litros por vaca, no ano passado. Para este ano, a previsão são 37 litros diários, o equivalente 2,75 milhões de litros entregues à cooperativa Frísia (antiga Batavo), também com sede em Carambeí. “Nosso desempenho tende a ser maior, à medida que as novilhas compradas entrem no processo produtivo”, afirma Vriesman. De acordo com o produtor, a meta para 2017 é produzir 38 litros por vaca ao dia, o equivalente a 3,5 milhões de litros, quatro vezes mais do que era em 2013. O plano do produtor é ousado. Para se ter uma ideia, a fazenda Colorado, em Araras (SP), maior produtora do País, dona da marca de leite tipo A Xandô, produziu 36,5 litros por vaca ao dia no ano passado, a partir de 1,7 mil em lactação.

“Nossos produtores conseguem em média 23% de bônus sobre o preço base” Henrique Costales Junqueira, gerente da área de leite da Castrolanda
SUCESSÃO Hoje, os rendimentos da propriedade são suficientes para manter três famílias. Além dos pais, as famílias de Vriesman, casado e com duas filhas, mais a do irmão Fábio, de 36 anos, que também é casado e pai de duas meninas. Fábio é o responsável pela lavoura de capim e de milho para a silagem usada na alimentação das vacas. Outros três irmãos, dois agrônomos e um estudante de agronomia que faz estágio nos Estados Unidos, não participam do negócio, mas herdarão a propriedade. No ano passado, a receita foi de R$ 2,2 milhões, neste ano a previsão é de R$ 4 milhões e em 2017 o esperado são R$ 6 milhões em receita. As contas, no entanto, ainda estão apertadas. Isso porque, para dar o salto de produção, Vriesman financiou o projeto familiar de crescimento. Ele ainda precisa amortizar R$ 3 milhões, R$ 2 milhões deles nos próximos três anos, do total de R$ 9 milhões aplicados no negócio.

“Cálculos já levam em conta a produção da fazenda por funcionário e não só por vaca” Glauco Rodrigues Carvalho, da Embrapa Gado
de Leite


Com o projeto andando e dando resultado, o produtor faz um mea culpa em relação à sua postura anterior. “Só quando voltei para a fazenda percebi como era fácil criticar meu pai e meu irmão, que sempre cuidaram do negócio”, diz Vriesman. “Vi também que eu não tinha o conhecimento para implementar as mudanças necessárias.” Isso porque a solução não estava apenas nas planilhas de custos, produtividade e lucratividade. Ele precisava estabelecer diálogos com a família e com as suas limitações. Não por acaso, uma das primeiras atitudes foi fazer dois cursos: um de gestão estratégica do agronegócio na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) e outro sobre especialização em pecuária de leite, da Didatus, em Curitiba. Para Maria Teresa Roscoe, professora da Fundação Dom Cabral, com sede em Nova Lima (MG), especializada em sucessão familiar, a reinserção de um filho em uma estrutura produtiva depende muito da capacidade de todos os envolvidos, em equilibrar a tradição com as novidades. “O fato de ser um familiar que está implantando as mudanças nem sempre garante o sucesso da iniciativa”, diz Roscoe. “É preciso alinhar muito bem os objetivos e como essa gestão vai ajudar a alcançar as metas estabelecidas.”
MERCADO No caso de Vriesman, a ideia é crescer para ter uma fatia ainda maior de um mercado que no ano passado apresentou um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 52,2 bilhões, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP) e que tem um futuro desafiador. De acordo com estudos do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), a produção no País deve saltar dos atuais 34,2 bilhões de litros para até 47,3 bilhões em 2050, concentrada em pequenas propriedades, como é o caso da Capão da Imbuia. Isso significa uma taxa de crescimento de cerca de 3% ao ano, para dar conta da futura demanda.

Bons resultados:  a fazenda se destaca pelo alto índice de produção por vaca


Para ajudar os produtores na gestão de seus negócios, a Frísia, juntamente com as cooperativas Castrolanda, no município de Castro, e a Capal, de Arapoti, criaram em 2011 o que eles chamam de Intercooperação. Juntas, as cooperativas que no ano passado faturaram R$ 5,1 bilhões, contam com 3,8 mil cooperados que também se dedicam a outras atividades, como a criação de aves e suínos, o cultivo de grãos e a agroindústria.  Com novos projetos, além de organizar os já existentes, a ideia é prestar assistência contínua às propriedades da região conhecida como Campos Gerais, na qual estão 23 municípios com alta produção leiteira e ainda com capacidade de expansão. “Na Intercooperação conseguimos ter escala para negociar melhor nossos produtos industrializados”, diz Henrique Costales Junqueira, gerente da área de negócios leite da Castrolanda. “Ven-demos com marca própria e também fornecemos a outras empresas, como Nestlé, Danone e Italac”.

A Capão da Imbuia está em dois projetos das cooperativas. Um é o Pool Leite, criado nos anos 2000 pela Capal, para organizar a logística de captação do leite e o pagamento por qualidade; e o outro é a Clínica do Leite, chamada de Sistema MDA. Hoje, estão integrados no sistema do Pool Leite 1,5 mil produtores da Intercooperação, mais quatro outras pequenas cooperativas. Juntos, somam 90 mil, com produção diária de 1,8 milhão de litros. Os produtores ganham bônus por metas, em função dos teores de gordura e proteína, os dois principais ingredientes que influenciam na qualidade de produtos como manteiga, queijos e iogurtes. Também conta o combate a bactérias no leite e a capacidade de armazenamento de cada produtor. “Em média, os produtores conseguem um acréscimo de 23% ao preço de referência do litro praticado pelas cooperativas”, diz Junqueira. “Os melhores chegam a cerca de 35% de valor agregado.” Vriesman está neste grupo. Em agosto, enquanto o preço base do litro era de R$ 1,20, ele recebeu R$ 1,62.

Cooleite:  união de cooperativas comercializa a produção dos Campos Gerais
Vriesman também participa  da Clínica do Leite, desenvolvida pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), visando profissionalizar e organizar as fazendas. “Foi com a clínica que aprendi a ter um sistema de gestão mais focado na mão de obra” diz Vriesman. “É importante que cada funcionário conheça todos os dados de produção, para que cada um assuma as suas responsabilidades.”  Para Glauco Rodrigues de Carvalho, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora (MG), o desafio com a mão de obra é especialmente grande na cadeira leiteira. “Já existem cálculos que levam em conta a produtividade não só por vacas, mas também por funcionários que atuam na propriedade e isso pode mudar o jogo”, diz ele. De acordo com o pesquisador, regiões como a de Carambeí podem ajudar a elevar a média brasileira de produção. “Basta ver os Estados Unidos, que produzem na média de 27,4 litros por vaca dia, sete vezes acima do Brasil”, afirma Carvalho. “Ou mesmo países menores, como a Nova Zelândia e a Argentina, que chegam a 13,7 litros.”

Se depender de Vriesman, o futuro do setor leiteiro está garantido. Quem o escuta contar a história do avô Cornélio, que comprou a primeira vaca leiteira nos anos 1940, tem a certeza de que a família deve permanecer na atividade ainda por muitas gerações. “Quando meu avô comprou essa primeira vaca, o vendedor precisou dividiu seu pagamento em 12 parcelas, mas o animal morreu depois de um mês”, diz Vriesman. “Aí, ele voltou até o vendedor, que não repôs o animal e ainda o convenceu a comprar uma outra vaca, com o pagamento das duas em 24 meses”, diz. A avó do produtor, Maria Vriesman, dizia para o neto, ainda pequeno, que o cofre da casa era uma gaveta com meias velhas, usadas cada uma para guardar o dinheiro das despesas da casa. “Eles só juntavam dinheiro para outras compras, depois que a meia para o pagamento das vacas já estava cheia.”

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