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Com a mão na massa, pequenos agricultores do Sul da Bahia

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"Antes, eu entregava a arroba do cacau por R$ 130. Na minha última venda consegui R$153" Jeovan do Nacimento, do sítio Duas Irmãs
O produtor Jeovan Rocha do Nascimento, 45 anos, dono do sítio Duas Irmãs, em Igrapiúna, município baiano da região conhecida com Baixo Sul, tem motivos de sobra para estampar o sorriso na foto que abre esta reportagem, exibindo a principal cultura de sua propriedade, o cacau. No ano passado, o sítio de cinco hectares rendeu R$ 19,1 mil, dos quais R$ 15 mil foram lucro.  Pode parecer pouco, mas, em todo 2012 o produtor tirou de sua terra míseros R$ 1.950. O crescimento nesse período foi de excepcionais 880%. “Antes, eu entregava a arroba de cacau por R$ 130. Na minha última venda consegui R$ 153”, diz Nascimento. O produtor, que antes complementava a renda prestando serviços em outras propriedades da região, atualmente é só alegria.


Além dos ganhos com o cacau, Nascimento também se tornou mais eficiente na produção de mandioca, banana e guaraná, culturas às quais se dedica desde 2002, e agregou novos produtos. Em um hectare, o produtor passou a cultivar também cupuaçu, seringueira e urucum no Sistema Agroflorestal (SAF), no qual são integradas culturas agrícolas com espécies arbóreas. E mais: por sugestão da filha Jaqueline, 17 anos, está investindo na piscicultura.

Negócio de família: a produção do sítio de Santos (centro), agora é vendida para a uma cooperativa. Neste iníco de ano, os preços estão até 8% acima dos valores de 2015

A transformação do sítio Duas Irmãs, em uma propriedade empreendedora, não foi obra do acaso, mas fruto de uma série de iniciativas que estão fazendo de Nascimento um empresário rural que planeja, cumpre metas e mostra resultados. Desde 2012 o produtor participa do Programa de Desenvolvimento e Crescimento Integrado com Sustentabilidade (PDCIS), uma iniciativa fomentada pela Fundação Odebrecht, em parceiria com várias instituições. Entre elas estão a Organização de Conservação da Terra (OCT), o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), além de empresas, como a rede varejista Walmart. Atualmente, integram o programa 850 agricultores, donos de uma área de cerca de 1,6 mil hectares. Para Graciela Reis, vice-presidente de Organização e Governança da Fundação Odebrecht, a meta é fomentar a economia sustentável em uma região com 11 municípios e uma população de 285 mil pessoas, das quais 22 mil são pequenos agricultores. “Nosso foco é transformar, pelo conhecimento, para que as pessoas possam ser agentes da mudança de seu próprio destino”, diz Graziela. “A agricultura familiar pode ser altamente sustentável.”

"Nossa intenção é permitir que os produtores se sintam os gestores da paisagem" Ana Paula Matos, do projeto multiplicadores

Para Nascimento, a mais recente conquista, que em dezembro de 2015 completou um ano, foi o certificado da Rede de Agricultura Sustentável (RAS), identificado pelo selo internacional Rainforest Alliance Certified. Concedido no Brasil pelo Imaflora, o selo cobiçado por grandes empresas, entre elas McDonald`s e Nestlé, indica que um produto tem comprometimento socioambiental sustentável. Para obter o selo, os produtores precisam seguir uma série de regras de manejo dos cultivos, cuidar da saúde da família e aplicar um rígido controle nas finanças, como ocorre em empresas de alto rendimento operacional. Entre as mudanças estão o controle do uso de defensivos agrícolas e o fim das queimadas como forma de manejo do solo. Para renovar a lavoura do cacau e intensificar a produção, Nascimento, por exemplo, recebeu mudas de plantas resistentes à vassoura-de-bruxa, praga que dizimou os cacaueiros baianos na década de 1990 e que até hoje se reflete na produtividade das plantas que sobreviveram. O uso de clones resistentes à doença permitiu que a produção anual passasse de 15 arrobas de amêndoas por hectare, para 60 arrobas, quatro vezes acima. Na região, as lavouras mais produtivas rendem 150 arrobas.
Para recuperar nascentes de rio, Nascimento se integrou ao programa Carbono Neutro Pratigi, da OCT, que paga R$ 0,50 por árvore semeada. Em 1,7 hectare em recuperação, o produtor está recebendo R$ 1,4 mil livres. Foi essa água renovada que levou a filha Jaqueline a ver na criação de peixe uma oportunidade de negócio. Com o apoio do pai, ela passou a criar tilápias, vendidas para a Cooperativa dos Agricultores de Águas Continentais (Copecon), de Ituberá (BA). “Sempre acreditei na agricultura e na pesca e quero trabalhar para ter meu próprio negócio”, afirma. O tino comercial de Jaqueline foi aperfeiçoado na Casa Rural Familiar, que também faz parte do PDCIS. Nas casas, quatro na região, 300 jovens estudam cooperativismo, manejo de recursos naturais e administração rural por três anos, além de receberem toda a grade curricular do ensino médio.

Jairo de Souza e Genilda: com mais produtos vendidos, o bem estar da família melhorou
COMUNIDADE De acordo com Ana Paula Matos, responsável pelo projeto Agricultores Multiplicadores de Agricultura Sustentável (Amas), que também é da OCT, a capacitação vem promovendo mudanças profundas nas comunidades. “O objetivo é fazer com que os produtores se sintam os gestores da paisagem”, diz Ana Paula. Foi por estar de olho na qualificação profissional que o casal de agricultores Jairo de Souza, 37 anos, e Ginilda, 25 anos, donos do sítio Boa Esperança, de cinco hectares, buscaram o apoio do programa fomentado pela Odebrecht. Ginilda estudou na Casa Rural de Igrapiúna e Jairo pediu consultoria para formar uma área de SAF em 0,8 hectare de pasto degradado. “Antes, produzíamos apenas para subsistência”, diz Souza. Hoje, o casal cultiva dez produtos: cravo, pupunha, cacau, cupuaçu, banana da terra, cajá, açaí, seringueira, graviola e aipim. No ano passado, o sítio rendeu R$ 14,1 mil, ante R$ 8,2 mil em 2012. A produção, antes vendida a atravessadores, agora é levada para a Feira do Agricultor, a sete quilômetros da propriedade. Com conhecimento e mais dinheiro no bolso, o casal investiu em qualidade de vida. Agora, a residência conta com água encanada e energia elétrica.“O próximo projeto é comprar um veículo utilitário para transportar a produção até a feira”, diz Ginilda.

Agente De mudança:a vice-presidente da Fundação Odebrecht, Graciela Reis, diz que o foco é transformar pelo conhecimento
Para o diretor executivo da Organização de Conservação da Terra, Volney Fernandes, a educação de fato está multiplicando as boas histórias na região. “Esses produtores eram maus gestores de suas áreas apenas por não terem conhecimento” diz Fernandes. A meta até o final do ano é formar um novo grupo, para que casos como o de Marivaldo dos Santos, 52 anos, dono do sítio União, de três hectares, se multipliquem.  O certificado da Rainforest Alliance, recebido em 2015, é motivo de orgulho e está pendurado à vista de quem chega na varanda da casa de Santos. “Entendi que a qualidade da produção é importante e passei a ter um padrão que vou trabalhar para manter”, diz o produtor, que cultiva cacau, cupuaçu, cravo e mandioca. “Comecei do zero e agora quero sonhar ainda mais alto.” Em 2015, a renda da propriedade foi de R$ 5,4 mil, 22% acima de 2012, ano em que Santos aderiu ao programa.

Exemplo: para Fernandez, diretor executivo da OCT, faltava conhecimento para que os agricultores produzissem melhor

A mudança mais significativa para o produtor foi sair da informalidade. A produção, antes vendida a atravessadores, agora vai para a Cooperativa Agrícola do Vale Juliana (Coopervale), também de Ituberá, que negocia o cacau de 140 associados com empresas como a Nestlé e a Barry Callebaut. José Gomes, superintendente da Coopervale, diz que a conscientização dos agricultores sobre as boas práticas de manejo do cacau aumentou a qualidade do produto entregue. Os preços pagos estão entre R$ 150 e R$ 160 a arroba, nesta safra. “Mesmo sem um mercado definido para o cacau certificado, já conseguimos um valor 8% maior sobre 2015”, afirma Gomes.

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